segunda-feira, 13 de novembro de 2017

alaranjado.

segunda-feira, 13 de novembro de 2017 0
Quando todos os gatos são pardos, a gente consegue identificar qual é a nossa cor verdadeira. Eu sempre fui alaranjado: às vezes mais escuro, às vezes mais apagado, mas sempre fui da cor da abóbora e do por do sol. Talvez tenha demorado alguns anos para perceber qual era a tonalidade da minha essência, mas desde o momento em que percebi que minha áurea era laranja, assumi minha verdadeira coloração de peito aberto e sem medo de ser quem era. Laranja fluorescente, laranja que cega. Laranja lima, laranja pêra. Laranja que vai além do que foi designado para ser. Além de cor, além de objeto, além de mim. Laranja que surge no céu quando o sol se nasce e se põe; laranja que reflete nas lentes dos meus olhos e da minha câmera. Foi à noite que eu pude perceber que o laranja brilhava em mim enquanto tudo parecia se dissipar. Foi no escuro que eu pude ver que o cinza tímido que eu imaginava ser não era nada mais que um disfarce para o alaranjado que iria surgir. E foi na solidão que eu vi que a gente se torna a cor que a gente quer ser.

segunda-feira, 20 de março de 2017

autumn.

segunda-feira, 20 de março de 2017 0
Debaixo dessa grande árvore que costumava esbanjar flores coloridas e folhas verdes, hoje me deparo com o sol, as nuvens e os demais astros que posso ver e imaginar no céu. Seus galhos tortuosos já não me protegem mais da chuva e também não deixam os pássaros construírem suas moradas. Foi preciso a morte da árvore para eu perceber quem é que estava vivo.
Quando a grama está coberta de folhas e o vento se move mais rápido que o convencional, as pessoas aqui costumam dizer que chegou o outono. Eu não sei bem o que querem dizer, mas sei que esse tal de outono desnuda as árvores ao mesmo tempo que me deixa despido e vulnerável. E, assim, eu começo a conhecer o que há em torno e o que há dentro. Sem as folhas, sem as flores, sem a vida verde que tapava meus olhos, eu enxergo um mundo que eu não conhecia. A capacidade de imaginar as coisas também aumenta com essa falta de fotossíntese. É aí que me perco admirando a imensidão desse campo, desse universo e desse corpo. É nesse tal de outono que a gente se sente uma formiga gigante. É no outono que a gente se vê sem as sombras e sem as frestas; é no fundo dos galhos secos que a gente consegue se redescobrir (finalmente e um pouco mais). 

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

tree.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017 0
Sob efeito de algo inominável, transcendia a ti e a mim mesmo, como se tu viesse antes do meu próprio corpo. Intrínseco, enraizado e, ao mesmo tempo, solto e liberto. Consigo te ver em mim, mas fora de mim te enxergo totalmente nítido, do jeito que é e tem que ser: arredio, tanto quanto feroz, bicho, ora tímido, ora rei. Enxergo-te nu com suas cicatrizes na região do peito e da cabeça, metaforizando suas vivências e sofrimentos. E, cá entre nós, essas cicatrizes são o que te fazem gente de verdade. Então, não se sinta só quando olhar ao lado e eu, ou qualquer outro ser, não estiver presente. Saiba e se lembre que você só pertence realmente a você e que os carros irão passar, as ruas modificar-se-ão: a cidade contemporânea possui mais vida do que jamais. As flores nascem, floreiam, encantam, secam, murcham e morrem. A árvore continua ali, com seus galhos tortos porém vistosos, esperando - sem muito esperar - que outras flores nasçam, cresçam e tragam algum sentido para continuar existindo. Se não crescerem? Não tem problema, não. Muita gente sobrevive - e vive - com doze meses só de outono e muita gente mira - e admira - a poesia constantemente presente em galhos não floridos refletidos seja no chão de uma calçada movimentada, seja no meio de um campo onde só se consegue ver mato... e o seu reflexo.
 
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