sábado, 25 de setembro de 2010

perfumes (por Dina)

sábado, 25 de setembro de 2010 0
Aos poucos, bem devagar, sem que eu percebesse, ela foi me deixando. Quando dei por mim, descobri que ela tinha ido de vez – não voltará, eu a perdi irremediavelmente.
Como foi? Onde ela ficou?
Comecei a procurá-la. Alguém a viu? Onde foi que a deixei? Como pude perdê-la de tal modo? Tão linda! Tão sonhadora, tão transbordante de alegria e ideais. Éramos só ilusões e sonhos – muitos sonhos!
Não sei o lugar exato onde ela ficou. Fomos nos separando aos poucos sem querer, sem perceber. Afastamo-nos pelas andanças da vida. Pensei no passado e comecei a lembrá-la. Revi os lugares percorridos e os momentos vividos. Não encontrei respostas.
Já, agora, vejo-me sem esperanças de reencontrá-la. Desperto, então, para uma grande realidade: tudo que perdi pelos caminhos da vida só me fez ver que, com aquela perda, meu crescimento interior foi proveitoso. Que os sonhos – alguns germinados e outros esquecidos – foram só lindos sonhos.
Senti muitas saudades. Uma saudade tão boa, tão doce, por bons tempos. Esta saudade trouxe-me um riso amargo nos lábios silenciosos e encheram de lágrimas meu olhar distante. Esta imensa saudade trouxe-me de volta um passado tão longínquo, tão cheio de felicidades e emoções que eu julgava esquecidas para sempre.
Descobri agora onde ficaram minha juventude e minha mocidade: foi nas caminhadas para a maturidade, amadurecimento e, obviamente, para o envelhecimento. Vejo que sei muito mais que antes, considero-me quase uma sábia. Entendi, mas jamais a terei de volta. Foi-se para sempre.
Continuo envelhecendo, porém minha alma continua jovem, extremamente nova – ela nunca envelhecerá. Aprendi que a vida para de nos dar e começa a nos tirar. Sou muito feliz!
Entretanto, como sempre, o tempo não perdoa e a velhice vai chegando sem avisar, deixando cabelos brancos e rugas em meu rosto. Junto com tudo isso, deixa a saudade boa que nossa alma vem perfumar.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

anywhere.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010 0
As cortinas estão fechadas, a luz apagada. Mesmo assim, consigo enxergar as marcas que você me deixou - meu corpo e minha alma estão roxos. Você sempre vai e leva um pedaço de mim, como se me trouxesse vida e depois a tomasse de uma vez, sem pena. Por quantos verões terei que passar, em quantos invernos terei que chorar? Podíamos estar a meio caminho de lugar algum, mas estamos sempre travados no começo. E eu não sinto necessidade de contar isso a ninguém, eles não entenderiam, só colocariam-me pra baixo, diriam o que eu já sei - que sou um tolo e gosto de sofrer. Calem a boca! Vocês não sabem o quão bem eu me sinto, o quão vivo eu sou quando estou lá, deitado naquela cama, naquele chão, naquele céu, naquele nada; quando estou deitado naqueles braços, naquelas pernas, naquele rosto, naquele corpo. Sinto-me amarrado, como se eu estivesse preso e não quisesse me soltar - e alguém disse que eu quero? Vocês me vêem sozinho, no fundo do poço, implorando pela morte ou pedindo doses em um bar qualquer. Queria que vocês vissem o quão puro eu me torno quando estou deitado, ou sentado, ou agachado, ajoelhado. Queria que vissem a vulnerabilidade, a necessidade, o bem-estar. Vocês só vêem a angústia - e talvez essa se sobressaia, realmente. Eu só peço pra ficar deitado ou a caminho de lugar algum. Apenas peço pra ficarmos deitados.
 
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