quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

nectar.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012 1
E o amor foi acontecendo, sem ser cobrado ou pedido. Foi nascendo, brotando, surgindo e crescendo ao decorrer dos pores do sol: como uma flor que desabrocha apenas para que a abelha sinta-se confiante em beber todo o néctar vital para sua sobrevivência. Esse amor foi desabrochando e, ao mesmo tempo, recolhendo-se nele mesmo, para que crescesse sem deixar perder o sentido de existir: abrigar-nos. À noite, é possível sentir o cheiro doce do néctar sendo sugado pelo pequeno inseto, aos poucos, como se ele saboreasse vagarosamente a fim de sentir de maneira intensa a vida presente em sua boca. A luz da lua é refletida em suas asas quase copletamente estagnadas enquanto sua vitalidade está sendo recuperada através da doçura e consistência do néctar alaranjado. E a abelha não se cansa de sugar e extrair seus sonhos de uma substância aquosa que carrega em si tantos sentimentos e sensações. E é desse modo que eu também extraio de você tudo o que eu preciso, como uma abelha roubando o néctar dos deuses – gosto de preciosidade. Continuo sugando até que você não tenha mais nada a oferecer – mas você sempre terá, não é? Que o seu néctar seja renovado a cada desaparecer da lua e que nosso amor seja revivificado a cada nascer do sol. Que nosso amor seja doce, que seja néctar.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

poetic dreams.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012 0
Hoje eu acordei com todos os sonhos na cabeça, como se eles nunca tivessem saído daqui. Como se estivessem adormecidos, protegidos de mim. Os mesmos sonhos de quando eu tinha treze anos, os mesmos sonhos impossíveis e irrealizáveis. Rondando e rodando dentro dessa caixa branca com fios pretos que balança delicadamente para que eles voltem a dormir. E eu até chego a deitar debaixo dos lençóis, tentando acobertar todos esses pensamentos que insistem em querer voar para onde eu não posso ir, mas nem as cobertas os impedem. Conforme eles saem flutuando, tento apanhar um a um... estico a mão ali e aqui, mas eles se esvaem entre os meus dedos, criam asas imaginárias e voam para além da parede laranja e da janela gradeada. Lá fora, os pequenos grandes voadores se espalham para onde puderem: desde a casa da vizinha que mora com seu esposo comum e três filhos até a casa do velho compositor viciado em cocaína que mora em um bairro afastado do meu. Cada um atinge um lugar da cidade, um lugar do país... um lugar em outro continente, por quê não? Já que não posso prendê-los de jeito algum, quero mesmo é que eles voem até acharem seus lugares, até se convencerem que são impossíveis. Depois disso, então, eles voltarão para dentro de mim, trocarão de asas e tentarão novamente alcançar seus destinos, do mesmo jeito que tentam desde que eu tinha meus treze anos. E assim, por causa dessa revitalização permanente, eu me revitalizo também. Continuo construindo sonhos - que sei impossíveis, mas que sei que ganharão novas asas - e deixando-os livres para se tornarem o que quiserem, para se liquefazerem no papel e se tornarem poesia. Querer ter poesia sempre é o sonho com as maiores asas, mas sonhos voam, sonhos morrem, sonhos se reformulam. E a poesia? A poesia permanece dentro.

terça-feira, 24 de julho de 2012

swift.

terça-feira, 24 de julho de 2012 0
Caminhava com passos curtos entre as ruas asfaltadas e os edifícios cheios de janelas, perguntando-me onde é que eu iria chegar, onde é que eu queria chegar. Não havia respostas para as dúvidas que eu não fazia questão de esclarecer. Continuava andando com os mesmos passos curtos na mesma calçada de paralelepípedo com andorinhas desenhadas. Caminhava feito criança, brincando comigo mesmo de não poder pisar no ladrilho escuro que compunha as andorinhas, como se elas fossem algum tipo de mostro ou precipício do qual não teria saída. E eu morria de medo de cair, medo de voar, medo de subir em uma andorinha e sair flutuando entre as nuvens. O que eu seria sem essa fumaça dos carros e esses piche que me firma no chão? Sem estabilidade e sem estribeiras, eu voaria de encontro ao nada sem saber o porquê. E, no fim, voltaria ao chão, e a vida seguiria do mesmo jeito que já seguia antes: com passos curtos entre as ruas urbanas. Foi nessa brincadeira de não poder pisar em andorinhas que eu acabei caindo em uma delas. Uma andorinha aparentemente pequena que não poderia sequer levantar meus pés do chão, que não conseguiria me tirar da poluição da cidade grande e me levar para uma nuvem onde eu só enxergasse a luz do sol. Para que ver a luz do sol se posso me iluminar com os postes coloridos da avenida principal? Aquelas luzes monocromáticas e fortes que me faziam querer viver só à noite. Eu vivia bem com um copo de Whisky e um charuto na mão direita. Vivia sem enxergar a próxima esquina, o próximo sinal verde, mas vivia bem. Acordava simplesmente por não poder dormir mais e ia dormir por não conseguir mais parar de olhos abertos - olhos abertos que mal enxergavam. Andorinha, por que você não desviou para que eu não pisasse em suas asas? Por que você não voou antes que eu pudesse tocar no seu bico? Apenas ficou parada, como se quisesse me ver caindo dentro de um abismo sem volta. Você quis me fazer voar e tirou energia não-sei-de-onde para conseguir erguer todo esse peso que eu carregava. Você me levantou junto com os meus defeitos e meus encostos, minhas dores e meus encargos. Levou-me para o alto para arremessar lá de cima as coisas escuras que faziam parte de mim. Livrou-me da poluição e fez com que eu não precisasse dormir e acordar ao som das buzinas ensurdecedoras. E, mesmo sem perceber, eu esquecia da luz dos postes ao olhar a luz do sol. E, mesmo sem querer, você foi responsável por tudo isso, Andorinha. Os passos curtos agora são largos, são apressados, são necessários. São passos de quem tem vontade de caminhar, de quem quer acompanhar o bater das suas asas. E eu não tenho medo de sentir o vento nos meus cabelos do alto de uma montanha. Se eu cair, sei que você estará lá embaixo para não deixar que eu quebre a cara em quatro partes. Levantará voo assim que perceber que eu estou com os pés fora do chão do mesmo jeito que eu levanto os braços para afagar sua cabeça. Deixa eu cuidar de você, Andorinha, do mesmo modo que você cuida de mim. Você me fará voar enquanto eu continuo insistindo para que voe comigo, para que me leve onde for, onde quiser ir. Voemos em direção a nós mesmos sob a luz alaranjada do pôr-do-sol como em um desenho infantil numa folha de papel sulfite.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

all my fears.

quarta-feira, 30 de maio de 2012 0
É medo, eu sei que é medo. É o único possível nome pra esse sentimento perturbador que me invade de repente. Medo de encarar o que pode vir – ou o que pode não acontecer. Medo de ir, medo de ficar também. Medo de tentar correr atrás de uma coisa que já foi tão perseguida que nem sei se pode ser alcançada. Eu insisto em tentar, mesmo com esse medo. Saio calado da sala enquanto as pessoas assistem à novela como se tudo fosse de outro mundo, mas me identifico com cada cena, cada personagem, cada trecho de suspense e cada trama mal-contada. Seria mais fácil se a vida se resolvesse em cinco ou seis meses igual a esse teatro televisivo. O mocinho sendo feliz para sempre com a mocinha, enquanto o vilão é preso ou morto. Porém me questiono: será que somos todos puramente mocinhos ou puramente vilões? E é ai que ressurge o medo. Medo de ser mais vilão que mocinho, de merecer mais a morte que a felicidade eterna. Medo de tentar agir conforme a lei e as convenções e acabar morrendo como o vilão. Se as minha ações forem inconsequentes, não poderei desejar uma vida justa e regrada – apesar de ser o que eu mais quero, às vezes. Se eu agir por impulso e continuar fazendo e desfazendo laços afetivos com as mesma frequência que amarro meus tênis sujos de terra, terei certeza que uma vida estável passará longe da minha vista. E será justo! Muito justo. Sempre trocando de par, trocando de corpo. Deve haver pessoas que nascem para isso, para não cair na monotonia de uma vida cheia de um marasmo convencional. E talvez eu tenha um pouco dessa pessoa, talvez eu seja uma delas. Não queria ser vilão ou mocinho, só queria saber em qual dos dois padrões eu me encaixo e não ter medo de vestir a personagem e atuar de modo constante até o fim dos fins. Mas não, eu tenho que ficar nessa metade inconstante, sem saber para que lado correr, com medo de uma coisa ou outra. Todo mundo deve ser um pouco assim, meio perdido, meio inseguro, meio medroso. Eu só sou um medroso egocêntrico, com medo de aceitar as coisas como elas são e tomar partidos quando devo – por não saber para onde correr.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

drunk on love.

quarta-feira, 9 de maio de 2012 0
E chegamos naquele local onde tudo era verde, onde o sol brilhava e o céu mudava de cor aos poucos. E a toalha xadrez, igual a dos filmes, nos aproximava de nós mesmo. E ficamos ali: trocando olhares, palavras e sentimentos escondidos. Li uma página do meu livro para você, mas era como se você já o conhecesse por inteiro. Parei de ler e comecei a falar. Falar sobre coisas aleatórias e sobre filosofia de vida como se eu fosse sábio de alguma coisa. Você começou a falar besteiras, mas foram as besteiras mais importante que eu já ouvi. E começamos a troca de olhares e sentimentos. Você me olhava, enquanto eu olhava para o céu. Eu o olhava enquanto você me olhava. E olhávamos para a infinidade de nuvens e para o clarão do sol: troca de olhares entre os raios luminosos. Então, eu fechava os olhos por não conseguir encarar aquela luz. Cinco segundos - o suficiente para sonhar todos os sonhos lindos com você. E começamos a trocar sentimentos, se é que já não havíamos compartilhado todos durante aqueles instantes. Sentimentos despejados numa garrafa barata de vinho consumidos por mim e por você simultaneamente. Bebemos um gole e outro e outro e outro: drunk on love.

terça-feira, 10 de abril de 2012

airplan[e]s.

terça-feira, 10 de abril de 2012 0
E eu fico aqui fazendo planos sozinho. Planos para cada uma das pessoas que eu conheço. Em alguns eu me incluo, em outros não. E são planos tão diferentes, tão absurdos, tão separados. Começo a compartilhá-los e vejo sorrisos crescendo, como se tudo aquilo fizesse o mais absoluto sentido e fosse ser concretizado em breve. É tudo mentira, você não soube? As palavras, as promessas, os sonhos: são mentiras. Os planos, apesar de constantes e rotineiros, são imaginários. Não são como o preto dessa tinta no branco desse papel: são irreais, não-enxergáveis. Mas quem disse que eles se importam? Quem disse que eu me importo? Oras, eu não me importo mesmo porque esses planos são tudo o que eu tenho, é tudo que eu consigo oferecer. Talvez eles queiram viver desses planos mirabolantes, talvez seja tudo o que eles possuem também. Casa verde em meio a um campo florido ou mansão branca com dezenas de avenidas que a cercam: eu sei planejar o que convier. E fico montando, dentro da imensidão da minha mente, maquetes e futuros que possam me fazer bem. Organizo uma infinidade de planos, de sonhos e deixo cada um em seu devido lugar. Às vezes deposito-os nas pessoas, às vezes nas situações – ou apenas guardo para mim mesmo. Há planos que não precisam ser planejados para existirem: sei que estão aqui e não preciso apalpá-los ou demonstrá-los para saber que estão. Não sei se vou viver algum - ou todos, ou nenhum - desses planos, mas planejar já é realizar. Uma realização instantânea que te proporciona o prazer do sucesso no momento que o plano é escrito no papel ou exposto pela sua fala. Falar é realizar, escrever é realizar. E que esses planos, reais ou não, voem como aviões em céu descampado. Que cheguem até a casa do campo e a mansão urbana. Que eu consiga sonhar em várias vertentes para que os sonhos e os planos não se acabem.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

avenue. (poem)

segunda-feira, 9 de abril de 2012 0
Como numa avenida no centro da cidade
As pessoas vão passando, passando
Umas lenta, outras rapidamente
Enquanto carros e motos estão buzinando

Deixam suas marcas, seus chicletes
Jogam papéis sujos e amarelados
Que viram cartas guardadas
Dentro de uma gaveta, envolta por cadeados

Rastros, pegadas, feridas e pedaços
Vão deixando partes de si pela rua
Outros deixam menos. Egoístas!
Mas é rara rua que permanece crua

Embarcam, tomam ônibus e conduções
Conhecem outros rostos, outras cores
“Por quê você não veio comigo?”
Encontram outros amores

Algumas perdem hora, perdem o rumo
Perdem o ônibus, simplesmente não vão
E, então, chamamos de saudade
O olhar aéreo vindo de dentro do saguão

No poste sem luz da avenida passada,
Ficam os que não deveriam ir
O tempo se encarrega de segurar
Aqueles que não conseguiriam partir

E, assim, a vida vai seguindo
Tomando conduções e metrôs
Enquanto uns vão de carro e motocicletas
Num trânsito desordenado e ligeiro
Que leva as pessoas para todos os lugares
E , às vezes, não leva a lugar algum
Sinceramente? Não quero chegar tão rápido assim
Vou seguindo, vou jogando chicletes
Esperando que eles se tornem asfalto
E os papéis amarelados?
Ah! Que se tornem alaranjados.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

old bottle.

quarta-feira, 4 de abril de 2012 0
Queria juntar as palavras mais bonitas e doces, colocá-las esparramadas numa folha em branco e enviar até você, dentro de uma garrafa velha. Você iria ficar confuso ao receber, mas acredito que entenderia ao acabar de ler. Mesmo que eu não escrevesse coisa com coisa, mesmo que as palavras se misturassem devido ao borrão da caneta. Eu poderia até não escrever nada: sinais seriam o suficiente para você compreender. Riscos abstratos e letras embaralhadas dentro daquele vidro amarelado e você saberia que todo o amor que eu tenho estaria ali dentro, sendo entregue. E eu sei que você não precisaria de muito mais, do mesmo jeito que eu não ia querer muita coisa em troca. O meu amor é seu sem pedir retorno, sem pedir esmola, sem pedir nada. É porque é, porque tem que ser. Então, guarde bem essa garrafa e não se esqueça que no dia quatro de abril de dois mil e doze alguém lhe deu todo o amor que havia no mundo sem a necessidade de haver retribuição. Amo porque amo, porque me sobra amor [só por você].

quarta-feira, 21 de março de 2012

monkey.

quarta-feira, 21 de março de 2012 0
Tire esses sapatos molhados e venha se deitar comigo. Eu já te disse que você tem trabalhado demais, não disse? Há anos que ninguém senta no sofá da sala - a não ser este gato folgado que você intitulou Valentim. Calce as meias de veludo que te dei no último natal e venha para a cama. Não se esqueça do cobertor, tá? Alergia? Tudo bem, pegue o edredom. Mas já aviso que o gato dormirá na varanda e não reclame! Aliás, traga um copo d'água antes de vir? Por favor. Faço aquele cafuné até você dormir, prometo. Mas logo você terá que acordar e voltar para o trabalho. Largue isso, largue tudo! Vamos nos mudar para o campo como você me pediu há três anos? Deixemos esse apartamento e mudemo-nos para uma casa na árvore, que importa? Seremos eu e você - o gato fica. Comeremos maçãs e bananas todos os dias, nos tornaremos macacos legítimos. Você sabe, né? Então vamos, saia dessa urbanização, só traga aquela sua camisa bege e o seu chapéu de palha. Vamos ser macacos!

terça-feira, 20 de março de 2012

Mar é.

terça-feira, 20 de março de 2012 1
A maré foi baixando aos poucos, lentamente
E seus olhos - da cor do mar - foram junto com ela
Olhos baixos, apagados, de quem já não tem o que perder
Sua voz já se tornara imperceptível, inaudível

Fale! Fale baixo, mas fale qualquer coisa
Preciso ouvir e sentir você respirando
Grite! Urre! Berre! Ou apenas mexa-se
Para eu saber que as coisas ainda não terminaram

Vamos contar carneiros até pegarmos no sono?
Ou você prefere um conto de fadas contado por mim?
Sabe, faz tempo que queria te admirar a dormir
Prepare-se para ouvir uma história sem fim

A primavera floresce quando há amor no sol
E o grande astro ilumina somente se houver o que iluminar
Agora, eu te digo, tem eu e você
Estamos aqui, nesse barco, na baixa maré, a remar

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

made of stone.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012 0
Eu não fui feito de carne, não fui feito de aço. Fui feito de vidro, feito de pedra, feito de lona, de lixo. Não sou de corda, nem de papel: não me amarre, não me amasse. Fui feito para ser do céu, para pertencer à nada a não ser à minha própria loucura. E eu só tenho a mim mesmo e não há motivos pra esconder: não sou seu, nunca fui de ninguém. Nasci pra ser da noite, pra ser da lua, pra navegar num barco - sozinho e sem destino. Pego meus peixes, faço minhas viagens, carrego meus cantis de água para não morrer de sede. E se o barco resolver virar? Eu sei nadar, nasci pra nadar - nadar contra a correnteza, nadar contra o próprio mar. Remo, remo, remo até parar de remar. Os braços são meus, eu tenho direito de cansar. E se eu quiser rimar? Rimo! Remo e Rimo - os dois indivíduos que habitam dentro de mim. Preciso remar, senão não viajo, não sonho, não vivo. Preciso rimar, senão não canto, não choro, não sorrio. Minhas rimas são pobres, mas minhas. Meu barco não precisa ser de ouro, só precisa me levar para onde eu quiser. Vou remando e rimando, por onde o vento soprar, por onde o vento quiser me lev... Por onde eu preferir navegar!

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

spout.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012 0
Hoje eu só queria derramar um oceano por ninguém, pra nada. Queria que tudo que está aqui saísse de mim para nunca mais voltar. As coisas voltam, eu sei que voltam, mas me daria por satisfeito se o tormento passasse por alguns instantes, algumas frações de segundos. Derramaria águas tanto cristalinas quanto rubras porque um só tipo não seria capaz de desafogar-me de mim mesmo. O tempo passaria normalmente e os carros continuariam correndo enquanto eu jorraria todo esse medo do desconhecido. Os pássaros não parariam de cantar para me ver sangrar e nem poderiam: eu sangro por sangrar e não para que o mundo pare diante de mim. Eu choro por não saber amar e tento amar por não conseguir que as lágrimas caiam e saiam e desçam e sumam. O tempo continua passando normalmente e eu continuo jorrando. Jorro até não ter mais o que expelir. Paro de jorrar até querer jorrar de novo.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

avenue.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012 1
Como numa avenida no centro de uma grande cidade, as pessoas vão passando - umas lenta e outras rapidamente. Vão deixando suas marcas, jogando seus chicletes e seus papéis sujos que, muitas vezes, se transformam em cartas guardadas no fundo da segunda gaveta daquela escrivaninha cor-de-burro-quando-foge. Deixam rastros, pegadas, feridas e pedaços de si pela rua. Outras deixam menos, mas são raras as que não deixam nada. Então embarcamos em um ônibus que nos levará a outra rua, com outros rostos e outras marcas. Coincidentemente, pode ser que alguém do nosso passado tome o mesmo ônibus que o nosso e, então, chamamos isso de amizade. As que perdem a hora, perdem o rumo, perdem o ônibus, ficam. Simplesmente ficam - e passamos a conhecer a saudade. Aquelas que não deveriam ir mesmo, o tempo se encarrega de segurá-las ate que fiquem encostadas nos postes sem luz da avenida passada. E assim a vida vai seguindo, tomando conduções e metrôs... Uns vão de carro, mas sinceramente? Não quero chegar tão rápido assim. Quero aproveitar o máximo dos chicletes e dos papéis, para que se tornem asfalto e cartas. E vou seguindo, deixando pegadas e rastros, para que as pessoas resolvam se querem subir no mesmo ônibus que eu. Vou cantando para que meu canto impregne e deixe seu timbre nos ouvidos, atinja a mente e se assente nos neurônios deles. Eu tento viver para ser visto, por que de que vale a andar na avenida sem ser notado?

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

fluorescent adolescent.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012 2
Aquela dor que se sente aos treze anos de idade quando você olha a foto da sua paquerinha platônica, sabe? Não era pra apertar tanto assim... Vai passar, eu sei que vai passar logo, mas por enquanto, eu penso que vai ser pra sempre e que vai sangrar sempre. Você podia olhar para a minha foto e sentir o mesmo, podia rir mais do que já ri das coisas que eu falo, podia me fazer sentir mais único do que me faz. Eu pegaria meu carro velho e iria daqui até a lua se você prometesse que iria comigo. Essas frases adolescentes, essas paixões adolescentes - são essas que mais queimam, que mais perduram em mim. E como eu queria te falar mil coisas, te contar minhas histórias, minhas ideias e os nossos planos - porque eu já fiz planos e você me dá vontade de contá-los. Eu já disse que você me faz querer falar e cantar e pular e sorrir e... chorar quando some. Como uma coisa que nunca foi minha pode sumir? Você quer ser meu? Meu coração não se engana, eu quero que você seja meu e - adolescentemente falando - quero que você seja meu pra sempre.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

little thing called...

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012 0
Quero amar alguém que não precise de amor. Amar alguém que seja dono de si mesmo e não queira ser dono de mais ninguém - e não precise ser de ninguém. A necessidade constrói o amor e não é esse amor que eu quero que sintam, não é o que eu quero sentir. Quero amar sem precisar amar, quero ser amado sem precisar o ser. Que surja, que aconteça, que apareça, que seja bizarro, mas que seja alguma coisa. Nem precisa ser amor, mas que seja alguma coisa intensa e que gere o bem, que não cause mal. Algo compartilhado, sem precisar ser cobrado. Para sentir, não preciso entregar tudo de mim, porque a única coisa que eu tenho sou eu, então, aceite as coisas boas que eu tenho para oferecer e camufle as más - porque ninguém é feito só de arco-íris. Saiba me deixar ir quando eu precisar e me segure quando você perceber que quero ficar. (...) Por que não se dá pra escrever sobre amor sem colocar seu coração em meio as palavras? Fico por aqui. Já disse: Não quero amor, não preciso de amor.
 
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