quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

27.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019
Eu sempre costumava dizer, até ontem mesmo, para mim e para os outros, que eu morreria com 27 anos. Um complexo de wannabe rockstar misturado com um medo de ficar velho. Confesso que ainda tenho um pouco - talvez muito - dessas duas inquietudes. Mas cheguei aos 27 anos, estou a alguns dias de completar 28 e, para nosso espanto, continuo vivo! Neste último ano, diversas partes de mim devem ter morrido: algumas boas, outras nem tanto. Não sou a mesma pessoa que era com 26 e não serei a mesma com 28 anos. Se bem que essa questão cronológica talvez nem tenha tanta importância. A gente só muda se quiser mudar. E eu acho que eu quis mudar e, por isso, mudei e também morri. Morri quando vi parte de minha família defendendo discurso de ódio; morri quando uma notícia falsa valia mais do que a minha própria palavra para meu pai; morri mais um pouco quando percebi que não seria possível mais continuar com vínculos - já fracos desde sempre, confesso - em detrimento das minhas convicções e posições não só políticas mas morais e éticas. Morri um tico mais quando esse discurso horripilante ganhou as urnas; quando os direitos humanos foram baleados e massacrados propositalmente; morri ao ver o conservadorismo de uma sociedade medíocre exposto cru e aberto para quem quisesse ver. Morri e não foi pouco. Mas, posso afirmar que, dentre todas essas mortes, a minha parte humana não morreu - ela sangrou, desejou morrer, mas lutou e não morreu. Essa parte continuou e continua [mais] viva, fazendo-me enxergar o quanto eu ainda era cruel e desumano, o quanto eu ainda havia por evoluir. Poderia falar que, então, outra parte minha morreu, mas eu já cansei de morrer nesses últimos tempos. E, de tanto morrer, preferi optar por renascer. Renasci e renasci muito - para mim mesmo e para os outros. Talvez eles nem percebam tanta a diferença, mas eu sinto aqui no meu peito que esse coração bate com uma outra frequência cardíaca do que costumava bater. Eu continuo ansioso, continuo inconsequente, continuo irritável e continuo extremamente confuso; mas também continuo alegre, continuo solícito (na maioria das vezes) e tento continuar humano. Na verdade, sinto-me mais animal que nunca - animal com seus direitos desrespeitados e ameaçados pelos próprios pares. Animal de carne fraca, vulnerável e frágil. E, por enxergar essas condições nas quais me encontro, sinto-me capaz de evoluir como ser humano, como animal e como alma que habita um corpo terráqueo. Por isso, quando forem a minha festa de aniversário e me caçoarem porque não morri com 27 anos, como eu sempre havia dito que aconteceria, eu vou retrucar e falar... Não, eu não vou falar nada. Apenas vou saber, por mim mesmo, que eu morri, sim, mas também renasci diversas vezes durante os meus 27 anos de idade.

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