Foi naquela conversa que eu percebi que ainda habita em mim
um menino assustado com seus dez anos de idade. Um menino puro, encantado e
aterrorizado ao mesmo tempo. Querendo saltar os muros da escola para fugir de
todo o caos que há nela mas também sedento por desbravar o mundo colorido que há fora.
Um garoto que ri de tudo e chora à noite antes de dormir temendo o que virá ao
nascer do sol. Coração acelerado, angustiado, apertado, mas imenso. Um
rapazinho que ainda acredita na bondade das pessoas, mas que experimenta, todos
os dias, a treva que lhe é lançada. Um colo que acalenta e afugenta, um colo
ora morno, ora gelado. A necessidade de se abrir e um receio de ser incompreendido.
Deve ser por tudo isso que aquela voz, sempre presente em seus fones de ouvido
durante a infância e adolescência, ainda é capaz de o fazer chorar e rir:
exerce tamanho poder nas suas sensações e sentimentos, como se o tempo nunca
tivesse realmente passado. Freud é capaz de explicar muita coisa, porém só o meu
eu adulto consegue aplicar sua teoria e perceber em que e como vive o meu eu
criança. Uma coisa é certa, feliz e infelizmente, ele vive mais em mim do que
eu ousava imaginar. E, como toda relação entre mais de um indivíduo, vivencia seus
momentos de diversão, nos quais o adulto e a criança passeiam de mãos dadas por um parque; os
momentos de bronca, quando o adulto se rebela contra as vontades puras e o linguajar simples e infantil da criança. E eu, como todas as outras pessoas (e todas as crianças), custo a
aprender realmente como a vida é feita. Altos e baixos. Medos e alegrias. Vitórias
e derrotas. Medos. Muitos medos.
terça-feira, 31 de março de 2020
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