segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

m-m-m-mstr.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
Com os pés cheios de lama e as mãos sujas de sangue, estava ele lá, cortando a grama verde de seu quintal entulhado de lixo. Enquanto eliminava todo o verde que insistia em crescer, seu nariz escorria e sua boca babava. Duas ou três machadadas eram o suficiente pra elimar aquela enorme árvore, mas ele ficava lá por horas... cortando, serrando, olhando, sonhando e pensando. A árvore ia se esfalecendo, caindo lentamente... Ele continua pensando, imaginando. No que ele pensava? Ah, não o pergunte! Há coisas sobre ele que nem ele próprio é capaz de explicar - nem se ele o quisesse muito. O céu ia escurecendo, as nuvens iam formando um grande círculo em torno do sol que estava se pondo. Ele continuava lá com seu machado, sempre serrando e matando as criaturas verdes e indefesas. Seus pé esquerdo esmagava as margaridas brancas e o direito amassava as tulipas amarelas - tudo em um compasso ideal, como se fosse uma dança. Esmaga aqui, amassa ali, mata acolá. Menos três árvores pra purificarem o ar daquela casa mofada e escura. Em seu quarto não se enxergava nada além de sua cama de madeira com o colchão encurvado pelo excesso de uso e sua penteadeira com o espelho quebrado - ele odiava olhar seu reflexo. Apenas deitava e dormia; a penteadeira estava inutilizada e corroída pelos cupins. O carpete sempre permanecia úmido e as paredes emboloradas. A falta de organização e a falta de apego abrigavam o coração do ser. Mas... Pra que ajudar a casa se a casa nunca tinha o ajudado? Ela permaneceria suja até que provasse ser digna de uma limpeza. Não é necessário se dizer que ela se acabou em pó e, por consequencia, ele também. Enquanto exterminava o verde, que tanto o iludira, as portas... Não entendeu? "..., que tanto o iludira, ...". Sim. O verde que tanto brilhara e tanto refletira a luz do sol merecia ser totalmente apagado. Sua cor vívida e seu cheiro campestre só aguçavam o coraçao do pequeno ser triste. Todas aquelas sensações que não podiam ser sentidas - não por proibição ou incapacidade, mas por machucarem - vinham à tona com aquele quadro bucólico. As flores que ele tanto colhia para dar de presente - brancas e amarelas - significavam muito. Elas significavam tanto quanto as árvores com seus volumosos e saborosos frutos, os quais eram comidos pelos dois em seus eternos piqueniques. Aquele cenário precisava ser eliminado assim como os sentimentos de seu coração. E com o machado, ele tentava arrancar o que tanto lhe custava pra esquecer. Apunhalava o mato, apunhalava seu coraçao. Sacrificava as árvores, martirizava-se. Sentia-se terrível a ponto de não conseguir mais se olhar no espelho. Horrível por não conseguir superar o passado e fazer a natureza pagar pelos seus problemas pessoais. Não o julgue! Essa era a única maneira de ele tentar esquecer. Queria esquecer pra nunca mais lembrar, porém o mato insistia em crescer. Ele não se renderia, serraria até o fim. Até as portas... (Já posso prosseguir) Até as portas cairem e ele ficar sem um abrigo seguro. Morreu ao relento, tentando acabar com algo que era maior que ele, tentando eliminar tudo o que lhe fazia mal. O monstro não conseguiu conviver com as suas memórias mal-resolvidas e seu amor não mais correspondido. Esqueceram de avisá-lo: Monstros também tem sentimentos.

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