quinta-feira, 17 de setembro de 2009

wrong beginning.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009
O que eu estou fazendo? Por que estou escrevendo isso? Quem eu penso que sou pra querer fazer uma autobiografia? Quem perderia o seu tempo lendo a história da minha vida? Acho que nem meus pais – por preguiça e por medo da decepção. Mas lá vamos nós. Não! Aqui vou eu, sozinho. Escrever os meus pensamentos, ser egoísta e egocêntrico. As palavras vão sair da minha mente – por que não teriam o direito de ser só minhas? E você? Pra que quer ler tudo isso aqui? São só mais alguns dramas adolescentes de um garoto inconformado, estranho e diferente. Não vale a pena, vá por mim. Desista agora! Você não vai conseguir me decifrar – não estou falando que você quer. As minhas memórias e os meus pensamentos são difusos e distorcidos demais pra sua mente limitada. Sim, eu o julgo se eu quiser: o livro é meu, e você não é obrigado a lê-lo.Ao contrário de todos os autores, escrevo pra você não ler, escrevo pra ser incompreendido, escrevo pra mim. Já no começo, recomendo-lhe a não ler. Mas que tipo de escritor é esse? Que não quer ser conhecido, que não quer ser reconhecido? Alguém disse que eu não quero? Eu quero a fama, mas não quero que você me entenda. Isso é possível? Como serei aplaudido pelas dúvidas sobre mim? Sinceramente, não sei. Sei apenas que quero a glória, não a compreensão.
“Coitado!” – você deve estar pensando. Que tipo de imbecil começa um livro sabendo que vai ser um fracasso? Não se esqueça que o fracasso de um, necessariamente, significa a vitória de outro. Não ligo de perder pra você ganhar – onde está meu egoísmo agora? Mas o que você ganha? Já se perguntou isso? Eu lhe respondo: você não vai descobrir, portanto pare – é a ultima vez que eu peço. Não gastarei todas essas folhas tentando evitar que você entre no meu mundo. Se quiser entrar, apenas entre logo. Só não diga que eu não avisei quando você estiver insano na página quarenta e dois em um quarto tentando saber o significado da palavra ‘pai’ pra mim ou quando estiver na última, xingando-me por não fazer um livro com começo, meio e fim. Talvez eu o faça, talvez não. Também não quero ouvir reclamações sobre as minhas interrogações e travessões – não consigo me expressar de outro jeito, às vezes. Bem, se está pronto, aperte os cintos de segurança e vamos navegar juntos. Juntos? Não acho que você gostaria de viajar comigo, e muito menos eu com você. Nossos sonhos não são semelhantes, nem um pouco. Viaje sozinho e descubra sozinho os meus sonhos, as minhas peripécias, as minhas loucuras, as minhas idiotices. Não vou guiar o seu caminho – nem por um segundo. Pelo contrário, vou escurecê-lo cada vez mais, até você não conseguir enxergar nada, mas fique tranqüilo, eu também estarei cego – as palavras sempre me tornam sombrio. Porém não pense que a escuridão é eterna. A luz aparecerá, mas não iluminará – já falei que não vou guiar o seu caminho -, ela apenas ofuscará seus olhos, dar-lhe-á um pingo repentino de clareza. Não se preocupe! Logo a escuridão é total novamente e você poderá tentar continuar seguindo. Garanto que não o levará a nada, mas o seu destino é continuar sempre. Como um moribundo sedente por vida, porém tudo o que vai achar é treva. As coisas que não podem se explicar com a luz, tentarão se esclarecer no escuro – nem sempre tentar é conseguir. Minha vida, minhas tempestades, meus dias ensolarados não ficarão evidentes pra você. Quando eu estiver falando sobre meu medo mais forte, você entenderá que é meu sonho mais vívido. Já disse que não consigo me explicar como quero e que, às vezes – às vezes? sempre – nem eu me entendo. Vou insistir: pra que perder tempo comigo? Faça que nem eles fizeram, não desperdicem o tempo comigo. Eles estavam certos? Com certeza. Pra que se esforçar pra entender aquele que não quer ser decodificado? Por mais que você saiba quem eu sou, sempre vou fazer de tudo pra confundir sua mente. Não quero que entre na minha, não entre. Mantenha suas limitações longe de mim, não quero deixar elas me afetarem, estou relativamente bem sem elas. Bem? Por melhor que eu esteja, sempre haverá algo pra me por pra baixo – se não houver, eu criarei. Está bem, por melhor que eu esteja, sempre vou fazer questão de parecer pior nas minhas criações. Não é do meu feitio ficar escrevendo do quão feliz estou, ou do quão bom foi meu dia. A tristeza, mesmo que forjada, me inspira – sempre. É bom que você saiba disso antes de perfurar minhas veias com duas pedras na mão, querendo criticar. Mas se quiser apedrejar, que o faça de uma vez. Não vou implorar por sua piedade – é o que eu menos preciso, sinceramente. Sou forte agora – antes não o era e, lamentavelmente, precisava do seu dó (mas isso é outra história, paremos aqui por agora). Você já está me conhecendo demais – ou está se perdendo nas linhas? A vontade de aprofundar-se no meu ser aumenta a cada palavra ou já está esgotada? Falei pra parar. Mas eu sei que vai continuar – não por mim, mas por busca de conhecimento. É sempre bom conhecer mais sobre alguém que quer ser conhecido. Mas, espera! Eu falei que não quero entendimento. Por que ainda tenta me decifrar? Prefiro ser indecifrável a ser vulnerável. Acho que já está na hora de realmente começar, ou você prefere que eu te enrole por mais alguns minutos? Não? Você não manda. Já perdi a conta de quantas vezes mandei você parar. Você é insistente – muito! Por um lado isso é bom. Insistência é uma boa característica – se for bem administrada. Caso contrário, torna-se uma arma de raiva – pelo menos pra mim. Se eu falo ‘não’ é porque é ‘não’. Confesso: nem sempre o meu não é não. O pior é que eu quero que você saiba quando meu não quer dizer ‘estou fazendo um charme’ ou quando meu não é realmente uma negação. Quando você não sabe diferenciar, você não consegue imaginar como eu me transformo. Aliás, você sabe...você não! Só não é pior que não conseguir distinguir a minha forma irônica de falar da minha forma sincera. Não que seja fácil, mas você, por querer fazer parte de mim, deveria saber. Quem disse que você quer ser parte de mim? Teria outra razão pra você ter chegado ate aqui? Isso aqui está se tornando mais um diálogo do que uma autobiografia propriamente dita, porém quem se importa? Eu não preciso rotular meu livro, ele é meu. Não dou a mínima também se eu me contradisser durante a minha escrita, se falar uma coisa e logo falar outra completa e absurdamente diferente. Já disse que tudo isso é meu – pelo menos isso é sempre meu. Já reparou quantas vezes eu usei ‘sempre’ depois dos travessões? Sempre é uma palavra tão abrangente, tão forte, tão concreta, tão eterna, infinita. Particularmente, já me cansei dela – contraditório sempre. As pessoas costumam usá-la com tanta freqüência mesmo sem saber o real significado. Não estou aqui pra julgar as pessoas – se eu quiser, eu o faço -, mas sim para me explicar – ou me complicar ainda mais. Admito que uso o ‘sempre’ de uma forma um pouco exacerbada e infiel, mas o ‘sempre’ é sempre ‘sempre’ no momento. A situação me faz acreditar que o ‘sempre’ sempre vai durar. E aposto que com você acontece o mesmo – um ponto em comum, certo? Ou não. Não quero me parecer com você. Se tem uma coisa de que eu sempre fiz questão foi de ser único. Especial pra alguns talvez, mas sempre único. Sempre? Nem sempre. Posso até ter sido sempre único, mas não me senti como se fosse. A minha singularidade já foi interpretada – não só pelos outros, mas por mim mesmo – como anomalia. E garanto, não é bom se sentir anormal. Não é bom ser um peixe fora d’água. Enquanto todo mundo é colorido e feliz, você está preto e branco. Sem graça. Petrificado pela sua diferença, sem poder agir, expressar-se, demonstrar algum tipo de sentimento. Paralisado pelo medo de ser crucificado por você ser o que é. Afinal, todos escolhem as suas personalidades, não? Se sou rude é porque eu sou rude, não porque eu o quero ser. Ninguém é amargo apenas por querer. Por outro lado, eu sou rude por não fazer questão de não o ser. É cômodo demais culpar a minha própria vida pelos meus traços pessoais. Se corto os pulsos é por isso e por aquilo. Se choro é por não ter a vida que eu desejo. De que adianta lamentar-ser eternamente? Os nós não vão se desatar sozinhos. Tento ao máximo fugir do comodismo e fazer algo pra mudar a minha parte não conveniente, meu lado sombrio. Mas de que seria a parte boa se não houvesse a ruim? Mudar não é a melhor opção. A sugestão seria controlar, equilibrar, adaptar. O mundo exige que você seja um camaleão propriamente dito – e por que não o ser? É sem graça demais ser constante – como se fosse engraçado ser totalmente inconstante -. Se pudesse escolher entre ter estabilidade mental ou não, sinceramente, não saberia. Eu gosto dos meus surtos neuróticos – às vezes. Ao mesmo tempo nunca fui estável suficiente pra saber se é bom ou não. Será que a estabilidade leva a monotonia? Esse é um dos meus grandes medos. Qual seria o sentido da vida quando não se tem mais nada pelo que lutar? Estou me alongando demais – essa introdução já está passando dos limites. Talvez ela me tenha feito ver que eu não sou capaz de escrever um livro sobre mim. Sempre vou querer discutir a minha interação do mundo. Realmente, ela me fez ver isso. Desisto! Isso não será mais um livro, será apenas um post em um blog pouco lido. Será esquecido com o passar do tempo – 3 dias no máximo? Pra quem queria ser imortalizado nos braços da literatura, morrer nas linhas de um texto sem rumo não é lá grande coisa. Porém vejo pelo lado bom... Consegui dissertar sobre mim e a minha relação com o mundo. Tudo bem que não foi nada se comparado com tudo que eu queria escrever, mas não acho que eu conseguiria escrever cem páginas sobre mim sem parar.Como sempre, perdi-me mais uma vez em minhas palavras. Quando vou conseguir me achar?

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